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Créditos de imagem: Pixabay

Quem é o culpado: o contador ou o software?

Conversei hoje pela manhã com um amigo contador e vi passar diante dos meus olhos uma velha conhecida cena cinematográfica, muito vista em minha trajetória profissional nestes últimos 20 anos.

A cena do nosso filme pode ser resumida na seguinte sequência:

  1. Chegou na cidade empresarial o xerife fiscalizador, que solicita os arquivos digitais da cidade.
  2. A cidade empresarial está com seus dados totalmente desconexos.
  3. O Mocinho do filme liga para seu contador, que por sua vez diz pra ligar para a fornecedora de sistema.
  4. Os arquivos são gerados em regime de “urgência urgentíssimamente urgente”, mas com informações desconexas incorretas inseridas pelos usuários.
  5. Os dados contábeis apresentam várias distorções porque a empresa não enviou os arquivos digitais para a contabilidade processar.
  6. Os dados digitais ficam incorretos, pois foram alimentados de forma "urgente urgentíssima", aos trancos e barrancos e em cima da hora.
  7. Por fim o xerife fazendário apresenta seu laudo técnico digital e a empresa é multada com auto de difícil defesa.

Decorre que o mocinho empresário da nossa estória começa a procurar culpados pelo desastre que se abateu sobre sua organização empresarial. Obviamente ele vê isto como ultrajante à sua dignidade.

Daí, eis que surge o grande vilão desta nossa estória: “o sistema”. Este sim! É o mordomo do filme. O bandidão que ultrajou as mocinhas da estória (as nota fiscais emitidas e recebidas), e este foge correndo em seu cavalo alazão digital deixando o “pobre mocinho empresário” na mão do xerife fiscalizador.

O segundo vilão que é entregado logo para o xerife é o contador, culpado por não ter orientado a cidade empresarial corretamente nos últimos anos (muito embora o contador esteja com tudo muito bem documentado).

Decorre que o mocinho do nosso filme não fica parado e busca logo duas grandes soluções para os seus problemas:

  1. Demite o contador, vilão principal.
  2. Implanta outro sistema “mais avançado”, “bonito” e mais “inteligente” na sua empresa. Este sim! Esse será capaz de resolver todos os problemas que vieram da falta de conhecimento das leis por parte dos estagiários contratados no setor fiscal.

O novo contador então, sem ser informado nem da metade da estória passada, é eleito para ser o novo delegado da cidade. Chega no meio do filme cheio de energia junto com a nova ferramenta digital “super inteligente” para ser o “salvador da pátria”.

É desnecessário dizer que estas cenas de cinema se repetirão constantemente nos próximos anos de existência desta cidade empresarial hipotética. É o cozinheiro colocando a culpa nas panelas pela gororoba que serviu a seus convidados.

Ainda mais nestes próximos anos, quando a pressão aumenta com o SPED - Sistema Público de Escrituração Digital.

Será que estou sendo catastrofista ou sendo realista?

Como disse, tenho assistido esse filme repetidamente nos meus últimos 30 anos de trajetória profissional e penso que sua reprise se alongará pelos próximos 20.

Olha aí minha velha reza de novo: Nesses novos tempos, ou as empresas se organizam em acordo com estas novas regras, ou vão ter sérios problemas com os xerifes.

E que estes novos xerifes digitais das secretarias das fazendas tenham piedade de nós, pobres mortais, nesses novos tempos de tiroteios digitais.